Commodities ficam entre risco da crise e do clima


No mercado interno, excetuando-se a soja, a tendência foi de queda nos preços ao produtor


GERALDO BARROS

ESPECIAL PARA A

FOLHA


Os mercados de commodities agropecuárias, depois de um ciclo de vários anos sob a

influência dominante da liquidez elevada e do alto crescimento mundial, vivem já há dois

anos sob o jugo dos eventos climáticos.

Os agentes estão muito sensíveis às previsões do clima. As temperaturas altíssimas nos

EUA, comprometendo a safra de soja e milho, levam a preços recordes enquanto abrem

espaço para concorrentes potenciais, entre os quais o Brasil.

Não fossem as deficiências de infraestrutura, os produtores brasileiros de milho, por

exemplo, poderiam mais prontamente beneficiar-se da queda na produção de trigo na

Europa.

A liquidez continua abundante, mas os altos riscos a mantêm represada. Os investidores

seguem com um olho no clima e seus impactos sobre a produção e outro na macroeconomia

e seus efeitos sobre a demanda: renda em queda e dólar em alta são freios para os preços.

Mas os juros baixos e os riscos de abastecimento levam à formação antecipada de estoques

preventivos por parte de grandes consumidores deficitários, puxando os preços para cima.

O quadro de escassez persiste, dando fundamento aos preços historicamente altos. A China

continua firme no mercado apesar de certa desaceleração. A União Europeia, por outro lado,

se retrai. No balanço, as exportações brasileiras do agronegócio seguem crescendo.

No mercado interno, neste primeiro semestre, excetuando-se casos como o da soja

-cujas cotações estão 50% superiores às do mesmo período do ano passado-, a tendência foi

de queda nos preços ao produtor.

Para a soja, as negociações FOB em dólares para março de 2013 (pico de colheita) estão

cerca de 15% inferiores em relação às negociações para agosto de 2012.

Mesmo assim, os preços podem ser considerados bons ou razoáveis, graças ao

reposicionamento do câmbio interno, com o dólar saindo do nível de R$ 1,55 para mais de

R$ 2,00.

Os preços dos alimentos ao consumidor brasileiro têm ajudado no controle da inflação,

criando espaço para redução nos juros.

Essa tendência é reforçada pelos preços da indústria, que vem sofrendo com a importação

dos excedentes de outros mercados em recessão. Agricultura e indústria não vão ajudar no

crescimento neste ano.

Já o setor de serviços segue avançando, o que tende a aumentar preços e salários, com a

economia já próxima do pleno emprego.

Ainda assim, o governo retoma -sem sucesso- os estímulos ao consumo.

O custo da alimentação ao consumidor brasileiro em 2008 chegou a correr na casa dos 16%

ao ano e, em 2011, a 10%. Isso gerou pressões inflacionárias e demandas por salários

maiores, que, se apertam a agricultura, sufocam a indústria.

No primeiro semestre deste ano, a pressão dos alimentos achava-se algo acima dos 6%,

compatíveis com uma inflação geral abaixo de 5%.

Agora, resta torcer para que os desequilíbrios climáticos não quebrem essa trajetória benigna

observada até aqui em 2012.
GERALDO BARROS

é professor da USP e coordenador científico do Centro de Estudos

Avançados em Economia Aplicada.

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