Reunião do Banco Central para decidir a Selic

Victor Martins


O mercado financeiro estima que o custo de vida vai se tornar mais caro até o fim do ano. As altas nos preços devem ser repassadas ao bolso do consumidor, especialmente onde elas mais incomodam: nos alimentos. Esse prognóstico indigesto, registrado pelo Boletim Focus do Banco Central, aponta para uma inflação de 5,01% em 2010. Na semana passada, a expectativa estava em queda. Era de 4,97%. As projeções para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) também foram recalculadas para cima. Subiram de 7,42% para 7,47%. Resta saber se, combinados, os dois dados serão capazes de acionar novo sinal de alerta no BC e justificar uma retomada do aumento dos juros.


O forte consumo no país, com lojas cheias, é um dos fatores que têm obrigado especialistas a rever diariamente seus números para o PIB. Em consequência, todo esse aquecimento da economia tem gerado inflação. Para 2011, o mercado espera preços em alta. Há um mês, os analistas acreditavam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria em 4,86% no ano que vem. Nesta semana, aumentaram a projeção para 4,95%.


"Ainda é cedo. O BC não vai tomar nenhuma decisão sem antes ter uma tendência bem definida. Vai avaliar primeiro se esse aumento das expectativas é permanente ou temporário", opinou o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Mas, mesmo descrente em uma reviravolta, admite a possibilidade. "O fato de o relatório Focus ter mudado a inflação para este ano e para o próximo acende um sinal amarelo para a autoridade monetária."


No bolso

Entre os itens que devem ficar com preços mais salgados, está o feijão. No curto espaço de 10 dias, a saca do produto encareceu quase 100%. E, segundo Marcelo Eduardo Lüders, operador da Correpar Corretora de Mercadorias, o preço vai subir a níveis nunca antes registrados. "Raras vezes nos últimos 10 anos, houve uma alta tão continuada como a que estamos vendo. Essa valorização irá refletir no bolso do consumidor, que deverá pagar mais pelo quilo do grão nas prateleiras dos supermercados", sentenciou. Com a quebra da safra de trigo, na Rússia, derivados do produto, como o tradicional pãozinho francês, também deverão registrar alta.


O preço da soja também disparou no pregão de Chicago, um forte balizador para os preços ao produtor em solo brasileiro. Problemas de clima na China e no Brasil vêm reduzindo ainda a oferta e impulsionando o valor do produto. "Há espaço para mais surpresas na inflação. É natural o repasse do atacado para os preços ao consumidor, ainda mais em um cenário de economia aquecida", afirmou Eduardo Otero, economista da corretora Um Investimento. "No caso da nova projeção para o IPCA do ano que vem, o cálculo se explica ainda por que o mercado continua desconfortável com o BC, por ele ter interrompido a alta de juros", disse o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.


Dissonância

A despeito de toda essa pressão no custo de vida, os especialistas acreditam que o Banco Central não vai iniciar um novo aperto monetário neste ano, deixando a Selic estável nos atuais 10,75% ao ano. O professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana é uma das poucas vozes dissonantes. Para ele, essa pressão sob os alimentos deve obrigar o Banco Central a iniciar novo ciclo de aumento de juros. "Acredito que subirá 0,5 ponto percentual até o fim do ano. No entanto, penso que esse aumento será dividido em duas altas de 0,25, sendo a primeira na próxima reunião do Copom", disse. O economista Carlos Thadeu de Freitas rebate. "Tendo em conta que nos próximos 12 meses há uma expectativa de uma inflação razoavelmente abaixo da meta, não creio em aumento da Selic."


"O fato de o relatório Focus ter mudado a inflação para este ano e para o próximo acende um sinal amarelo para a autoridade monetária"

Carlos Thadeu de Freitas,economista-chefe da CNC

Comentários

Postagens mais visitadas