Quem vai pagar a conta da nova política industrial no


São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010
ANÁLISE AGRONEGÓCIO
Quem vai pagar a conta da nova política industrial no
país?
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma das muitas vantagens de se engajar no comércio exterior é estar sob permanente
teste de estresse em competitividade: quem não é capaz de exportar pode acabar
sofrendo as consequências das importações.
Competitividade deve vir da produtividade, e não da manipulação do câmbio e de outras
formas de subsídios.
A discussão sobre o comportamento das taxas de câmbio tem sido intensa e calorosa,
tanto no Brasil como no mundo todo.
As queixas de muitos países se voltam contra a desvalorização do dólar promovida
pelos Estados Unidos, que, para se recuperarem da crise, não param de injetar dólares
na sua economia e no restante do mundo.
As reclamações vão também para a China, que amarrou sua moeda ao dólar e, assim,
vai surfando com facilidade no comércio de quase todos os tipos de bens.
No Brasil, o setor industrial bate continuamente na tecla da sobrevalorização do real e
da consequente ameaça de desindustrialização do país.
Por isso, desde o início do governo Lula está em preparação em Brasília uma terceira
versão de política industrial, visando alcançar a almejada competitividade industrial.
Para ter uma ideia das necessidades de apoio ao setor, basta lembrar que alguns
analistas avaliam que o câmbio se torna competitivo com o dólar a R$ 2,50.
Como não há no horizonte a mínima chance de se chegar a tal desvalorização cambial, a
única saída é apoiar o setor com alguma forma de subsídio, seja no campo fiscal, seja no
campo creditício, seja no campo tarifário.
É preciso considerar que o setor industrial contou com cerca de 40 anos de apoio e
proteção durante o período de substituição de importações. Mas, quando da sua
interrupção nos anos 1980, ficou claro que o crescimento obtido não era sustentável
economicamente.
VÍTIMAS DE SEMPRE
Edmar Bacha e Roger Bonelli mostram que, de 1960 a 1990, a produtividade industrial
havia crescido apenas 1,8% ao ano.
Como comparação, a produtividade da agropecuária - que contava também com apoio,
mas principalmente para compensar parte das perdas da política industrial de então -
tinha se expandido em 3,6% ao ano.
Quando os programas de liberalização foram implantados nos anos 1990, as
produtividades de ambos se aceleraram, mas, paradoxalmente, o setor industrial não
aparentava satisfação talvez por causa do aumento de concorrência.
Assim, quando os programas de apoio se escassearam, a agropecuária surgiu com
expressiva competitividade: desde o Plano Real até 2008, o quantum de suas
exportações cresceu 366%, enquanto na indústria o crescimento foi de apenas 102%.
Desde que o desenvolvimento tem sido irremediavelmente atrelado à industrialização e
não à produtividade e ao bem-estar da população, fatalmente virão novos apoios àquele
processo no Brasil.
A pergunta que fica é: quem vai pagar a conta? O contribuinte, especialmente o mais
pobre, que, mais uma vez verá a carga fiscal aumentar.
O trabalhador comum, que se verá privado de produtos importados mais baratos e,
quase sempre, de melhor qualidade.
A agropecuária, que, por ser concorrencial, não tem como repassar a carga tributária ao
consumidor, ao contrário do que ocorre com a indústria e o setor financeiro. Enfim, as
vítimas de sempre. Esperemos que, desta vez, os resultados sejam concretos e
duradouros.
GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.
Professor Geraldo Barros escreve sobre commodities na Folha de S. Paulo a cada três
sábados.

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