Como o produtor deve calcular seus custos

O Brasil vive atualmente um dos períodos mais turbulentos da sua história recente em se tratando de política e economia. Segundo dados do IBGE, o PIB brasileiro teve retração de –3,8% em 2015 e nenhuma previsão aponta para números positivos para esse ano. Inflação e desemprego voltaram a ser preocupações que pareciam não existir no Brasil recente. Já estamos falando que esta provavelmente será a década perdida. Infelizmente não conseguimos nos organizar estruturalmente – alavancando infraestrutura e promovendo reformas – nos bons momentos da década passada, quando tivemos uma alta demanda por commodities, tanto as agrícolas como as de mineração e energia alcançando preços bastante atrativos e que guiaram o crescimento do País. Em meio a isso, escândalos de corrupção desvendados, que aos olhos do mercado mostram um governo incapaz de retomar o crescimento, causando além da desvalorização da nossa moeda frente ao dólar também uma forte volatilidade desta no mercado.
O produtor brasileiro não pode pensar que o cálculo do custeio se restringe apenas à somatória dos custos com insumos, despesas administrativas e pagamento de dívidas, em contas simples de soma, subtração, multiplicação e divisão. Com a importância do Brasil no mercado mundial de commodities, uma lavoura de soja e milho é influenciada constantemente pelo comportamento do mercado internacional – que dita os preços globais dos grãos e do dólar, moeda prevalecente como câmbio para compra e venda de mercadorias entre países. Outro ponto que é válido ressaltar é que a moeda com a qual o produtor cumpre com suas obrigações, de uma forma ou de outra, é o grão de milho ou o grão de soja – isto também é válido para parte dos custos de uma empresa de sementes como a DuPont Pioneer, que remunera os campos de sementes referenciada nos preços de grão do mercado. Sendo assim, em concordância com especialistas em mercado, abordaremos neste artigo variáveis que merecem a atenção do produtor, dada sua influência imediata ou futura no cálculo dos seus custos– já que esses podem ser determinantes em anos de bons ou baixos retornos.
Aqueles produtores que já acompanham o mercado internacional percebem que, mesmo com preços não tão elevados em dólar na Bolsa, os preços internos têm demonstrado patamares muito interessantes, dado o grande multiplicador chamado câmbio. Desta forma, os grãos brasileiros, que em reais remuneram adequadamente nossos produtores, são vistos a preço justo ou até baratos no mercado internacional, como pode ser visto pelas exportações de milho recordes registradas em 2015 e nos 1os meses de 2016. Neste ponto é importante relembrar que neste momento, mais uma vez, o agronegócio contempla as contas do país com bons resultados, preenchendo espaços deixados por setores mais afetados pela crise na balança comercial, por exemplo. Além disso, este disparate do câmbio favorece a competitividade de nossos agricultores quando colocamos na ponta do lápis custos não vinculados ao dólar, como mão-de-obra, impostos e a própria terra (quando esta não está atrelada a pagamento em grãos).
Entretanto, os impactos do dólar e da movimentação do mercado também trazem alguns riscos ao agronegócio, como a necessidade de produtores de carne importarem milho de países próximos, como Argentina e Paraguai – a exportação recorde e o patamar de preço do grão no mercado interno reduzem a disponibilidade e a viabilidade de movimentação deste dependendo da região. Outros fatores de grande importância são o aumento da inflação e da taxa de juros, que afetam diretamente a maioria dos produtores que custeiam suas lavouras a partir de financiamentos agrícolas, e a variação nos custos atrelados a dólar, como fertilizantes em geral e defensivos agrícolas, que, somados às sementes de boa qualidade e genética, são essenciais a uma lavoura de alto padrão.
Devemos lembrar que não somente o dólar rege o comportamento do mercado de grãos. O que ocorre neste momento é que este fator está suportando os bons patamares que se observa desde meados de 2015. O mercado é influenciado diretamente pela relação de produção, estoque e consumo dos grandes jogadores do mercado, como EUA e China, e estes, por sua vez, muitas vezes são influenciados por decisões políticas e econômicas, com impacto direto nos números globais. O acompanhamento destes números e sua evolução constante pelo produtor, ou suas fontes de consulta e assistência é de grande valia, como já mencionado aqui anteriormente. Como exemplo, podemos citar o relatório de expectativa de plantio dos EUA, divulgado no mês de marco, no qual o USDA/NASS* menciona a expectativa de que a área de milho nos EUA retorne aos patamares de 2013 e a área de soja seja levemente menor que o ano anterior. Isto não quer dizer que os preços de milho cairão e os de soja subirão, pois os produtores americanos podem ainda mudar de ideia e de cultura, já que a safra é única, entre este relatório e o início dos plantios (assim que a neve der espaço à janela ideal), como ocorreu nos últimos anos. Além disso, não se sabe como o clima se comportará na próxima safra, seja a nossa, a americana ou a chinesa, o que influencia diretamente nos preços dos grãos de milho e soja. E tudo isso ainda pode ser relativo para o produtor brasileiro caso o câmbio elevado suporte, em parte, os preços no mercado interno.
Como visto nos parágrafos acima, diversos fatores influenciam o mercado de grãos, e por isso é tão difícil se prever cenários com 100% de certeza, ficando sempre à mercê da especulação e exposto a riscos. O Gráfico 1 nos mostra que variações em dois dígitos nos preços do grão são normais do momento de decisão e compra de insumos até a colheita.
A conta da rentabilidade da lavoura é uma linha tênue entre o positivo e negativo. Podemos demonstrar tal variabilidade utilizando como exemplo, na Tabela 1, os custos da CONAB para soja de alta tecnologia, aferidos em novembro de 2015, no qual podemos perceber uma rentabilidade interessante nas duas regiões analisadas. Porém, se por algum motivo há uma queda no preço do grão, aqui simulado com uma variação de -10%, este pode significar uma diminuição de lucro de 59% em Sorriso e 28% em Rio Verde, por exemplo.
Por isso no cenário atual reforça-se ainda mais a importância do agricultor ter seus cálculos de formação de custos e de rentabilidade afinados, visando adotar uma estratégia de mitigação de riscos de mercado, ou seja, estratégias contra a volatilidade de preços. Ferramentas essas que são adotadas com a finalidade principal de diminuição de riscos, e não como maximização de lucros.
Atualmente a ferramenta mais utilizada para esse fim é o Barter, ou simplesmente troca. Nesta operação o produtor realiza a venda antecipada do produto na aquisição de insumos de produção. Pela ampla oferta e facilidade, a operação é bastante utilizada. Auxilia no travamento dos custos de produção por parte do agricultor e reduz o risco de crédito para o trader, que tem o grão produzido como forma de garantia.
Dentro do mercado financeiro ou mercado de derivativos, existem várias opções que se encaixam para o produtor rural. A primeira é o Hedge, que consiste na compra ou venda de um contrato futuro a um preço estabelecido. No caso dos produtores que desejam se proteger contra uma possível baixa, o adequado é um Hedge de Venda.
Outra ferramenta disponível são os contratos de Opção de Venda. Nesta operação existe uma taxa pelo direito, mas não a obrigação de realizar um contrato de venda do grão em um determinado período. Dessa forma, se os preços subirem, não se exerce a posição e consegue-se atingir ganhos maiores com os novos patamares de preços, somente com o ônus da taxa paga. Do contrário, pode ser exercido o direito de venda do grão pelo preço previamente estabelecido.
O uso de ferramentas existentes como as citadas anteriormente diluem os riscos da atividade agrícola e trazem mais estabilidade ao setor. Pode-se combinar a segurança de garantir o pagamento de seu custeio com parte da produção e especular patamares maiores de preço com o restante do volume a ser produzido. Qualquer que seja a sua opção, o acompanhamento do mercado e os fatores que o influenciam, com boas informações, são essenciais, pois de nada adianta o empresário que tem custos bem calculados, mas que não sabe vender bem o seu produto.

*USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos; NASS – Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas; CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento 

Fontes:
  • Markestrat - http://www.markestrat.org/publicacoes/agri-food-business-impacts-with-the-recent-devaluation-of-the-brazilian-real.html
  • NFORMA ECONOMICS FNP – Relatórios Diários
  • Safras e Mercados – Relatórios Diários
  • CONAB

Autor:
Lucas Silvestre e Ricardo Formentini, ambos Eng. Agrônomos e Gerentes de Marketing Estratégico da DuPont Pioneer

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