EDUCAÇÃO SANITÁRIA

Elmiro Nascimento

Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais

Artigo publicado no caderno Agropecuário do Estado de Minas em 28/03/2011



O Brasil tem conquistado sucessivos recordes nas exportações do agronegócio, que em 2010 somaram US$76,4 bilhões. O mesmo caminho vem sendo trilhado por Minas Gerais. Somente nos dois primeiros meses deste ano, a receita das exportações do agronegócio mineiro somou US$1,3 bilhão, desempenho 40,38% maior que o registrado em igual período de 2010.



Vários fatores contribuíram, ao longo dos anos, para que o país assumisse lugar de destaque entre os maiores exportadores de alimentos do mundo, como ocorre na atualidade. O Brasil ultrapassou o Canadá e se tornou o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo. Na última década, o País já havia deixado para trás Austrália e China. Hoje, apenas Estados Unidos e União Europeia vendem mais alimentos no planeta que os agricultores e pecuaristas brasileiros.



As ações de defesa agropecuária desenvolvidas nos Estados e municípios têm grande contribuição para o alcance de resultados. Elas primam por promover a qualidade e a segurança alimentar dos produtos de origens animal e vegetal que seguem para outros países e que também abastecem a mesa do consumidor brasileiro. É senso comum que o Brasil possui, hoje, uma das legislações mais eficazes em relação à defesa agropecuária no mundo.



Entretanto, não basta ter a lei e realizar a fiscalização. Tão importante quanto é desenvolver junto aos produtores e trabalhadores rurais, consumidores, lideranças, comerciantes, profissionais do setor, professores e estudantes, ações educativas para conscientização sobre as formas corretas da produção e consumo dos alimentos.



E é isso que vêm fazendo, já há algumas décadas, os profissionais de educação sanitária, geralmente veterinários, agrônomos, zootecnistas e comunicólogos, entre outros. Ao trabalhar por meio de palestras, reuniões, campanhas, blitzen, oficinas e visitas in loco, as informações e orientações corretas sobre o manejo correto da produção, a educação sanitária ajuda a desenvolver nas pessoas o senso de responsabilidade pela sua própria saúde e pela saúde da comunidade a que pertencem, aliada à capacidade de participar da vida comunitária de uma maneira construtiva. O Brasil possui atualmente cerca de 3 mil profissionais treinados nessa área, pelo Colégio Nacional de Educação Sanitária e Comunicação (Conesco).



Quando um produtor rural vacina seus animais contra uma doença como a aftosa, agindo não apenas pela força da legislação fiscalizadora, mas consciente de que a imunização do seu rebanho vai ofertar produtos de qualidade para os consumidores, temos um exemplo claro de como atua a educação sanitária. Do outro lado, o consumidor que adquire produtos inspecionados ajuda a retirar do mercado os produtos inadequados. Cumpre-se, assim, um elo positivo de ações em efeito cascata.



Aqui em Minas, onde esse trabalho de educação e fiscalização é desenvolvido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), temos exemplos de como a educação sanitária tem contribuído para a mudança de atitudes por parte de produtores, comerciantes e consumidores. Em 2001, o Instituto verificou – por meio de análises laboratoriais – que 34% de 54 amostras de seis produtos de grande consumo (batata, cenoura, jiló, morango, pimentão e tomate), estavam com resíduos de agrotóxicos acima do permitido. Diante desses resultados, a Gerência de Defesa Vegetal do Instituto desenvolveu, a partir de 2003, um projeto-piloto em 17 municípios com produção dessas olerícolas, com ações educativas diversificadas e rotineiras, buscando mudar a conduta dos produtores rurais. Foram envolvidos também neste processo de ensino-aprendizagem professores e estudantes, e estes passaram a ser os facilitadores dessas informações nas comunidades. Em 2006, o percentual de amostras fora do padrão já tinha baixado para 18%.



Em caso recente e ainda em andamento, 126 produtores que comercializam queijo no Mercado Livre do Produtor (MLP) da Ceasa Minas, em Contagem, estão se adequando para atender às normas de produção, transporte e comercialização do produto, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Defesa do Consumidor. Junto com a Emater-MG, o IMA está orientando e capacitando esses produtores com ações educativas.



Apesar das ações de educação sanitária serem desenvolvidas no país já há algum tempo, somente em 2008 ela passou a fazer parte oficialmente do programa do Ministério da Agricultura, com a criação do Programa Nacional de Educação Sanitária em Defesa Agropecuária (Proesa), no âmbito do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa). Com essa medida, os Estados devem ter estrutura formal de educação sanitária nos órgãos de defesa, bem como capacitar seus profissionais, inclusive, com metodologias de comunicação, para que as ações educativas possam ser absorvidas da melhor forma pelo público-alvo. É consenso, por isso, que ainda faltam profissionais suficientes para trabalhar a educação sanitária em todos os municípios brasileiros. E esse é um dos grandes desafios do setor.



Esse e outros temas serão objeto de debates e palestras durante o 16º. Encontro Nacional de Educação Sanitária (Enesco), que será realizado em Belo Horizonte, de 1º. a 3 de junho, durante a Superagro Minas 2011. Com a expectativa de reunir cerca de 600 profissionais de várias partes do país, o Enesco objetiva, também, valorizar iniciativas que primem pelo aumento do nível de conscientização dos produtores, consumidores, profissionais e demais públicos de interesse, sobre a importância das ações de educação sanitária para a saúde e para a economia.



Não se pode mais esperar 30 anos, como aconteceu com o Programa de Erradicação de Febre Aftosa, para exterminar uma doença que atinge os rebanhos. É necessário romper com o desconhecimento que, muitas vezes, trava o desenvolvimento da produção e da sociedade.

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