Ferrugem Asiática: Riscos e Perdas com o Uso do Modelo Atual de Controle

Doenças, Soja, Manejo
​Por Ricardo Formentini¹

Cada vez mais a soja se consolida como a principal cultura no cenário agrícola brasileiro. Foram cultivados na safra 14/15 31 milhões de hectares com uma produção recorde de 96 milhões de toneladas, o que confere ao Brasil a segunda posição na produção mundial em uma disputa acirrada pelo primeiro posto com os americanos que produziram 108,2 milhões de toneladas na mesma safra.

Passadas mais de sete décadas dos primeiros cultivos comerciais da soja no Brasil, foram superados vários desafios para se alcançar as produtividades atuais. Na safra 76/77, primeiro ano da série histórica da CONAB, tivemos uma produtividade de 1.748 kg/ha, um número 47% inferior aos 3.066 kg/ha da última safra.

Atualmente enfrentamos uma doença que ameaça a produtividade, a ferrugem asiática. O fungo apareceu pela primeira vez no Brasil na safra de 2000/01 no oeste do Paraná e desde então se espalhou por praticamente todas as áreas produtivas do país. Já na safra 2003/04 a doença atingiu grandes proporções causando sérios prejuízos.
 
 
O fungo causador da doença se chama Phakopsora pachyrhizi, e é um fungo biotrófico, ou seja, necessita de tecido vivo para sobreviver. A sua disseminação ocorre principalmente pelo vento que levam os uredósporos à grandes distâncias. O método de controle mais utilizado pelos produtores atualmente é o manejo químico com a aplicação de fungicidas. As características climáticas e culturais da safra brasileira são bastante favoráveis ao fungo Phakopsora pachyrhizi. Cultivamos em um clima tropical de alta umidade (são necessários ao menos 6h de molhamento foliar para infecção), temos temperatura favorável à doença (15º a 28º) e possuímos uma janela de plantio que vai de setembro até dezembro em alguns locais, totalizando mais de oito meses com soja cultivada em todo o Brasil. Todos esses fatores aliados a grande variabilidade genética do fungo com a grande pressão de seleção exercida pela massiva aplicação de fungicidas tem selecionado fungos resistentes e colocado o sistema de produção atual em risco.
 
 



A rede de ensaios da Embrapa nos mostra claramente uma tendência de perda de eficiência dos fungicidas ao longo dos últimos anos. Produtos usados isoladamente hoje tem baixíssima eficácia. A velocidade que a indústria pesquisa e lança novos princípios ativos e grupos químicos não é suficiente para garantir a sustentabilidade do sistema além da morosidade do processo de regulamentação.
 
 


Estratégias complementares são extremamente necessárias. O vazio sanitário, por exemplo, garantido por lei, mas nem sempre respeitado, é fundamental para diminuir a fonte de inóculo e a pressão inicial da doença. A conscientização do produtor deveria ser não apenas em eliminar plantas voluntárias durante o vazio, mas em todo período pós-colheita.

Também já estão disponíveis no mercado algumas variedades com resistência genética parcial ao fungo e, nesse caso, a planta de soja contém um gene que lhe confere essa característica. A planta não é totalmente resistente, porém, o fungo possui um desenvolvimento mais lento complementando o manejo químico.

Uso de variedades mais precoces e janela antecipada de plantio são ações que favorecem o manejo, porém, nem sempre são viáveis pelas condições climáticas e pela necessidade do produtor.

Segundo o FRAC Brasil (Fungicide Resistance Action Committee) dentro do manejo químico é importante seguir algumas orientações visando prolongar a eficiência dos produtos:
  • Utilizar a rotação de fungicidas com mecanismos de ação distintos e nunca utilizar um princípio ativo isoladamente;
  • Seguir as orientações e recomendações de bula para época, dose e intervalos de aplicação;
  • Programas de aplicações iniciados curativamente favorecem a pressão de seleção contínua e aceleram o desenvolvimento de populações menos sensíveis do patógeno e, portanto, não devem ser utilizados.

Segundo um estudo encomendado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) a ferrugem custou, na última década, US$ 15 bilhões aos produtores somente com controle. O mesmo estudo cita que sem a perspectiva de novos fungicidas no mercado, a doença pode causar perdas de 30% na produção brasileira de soja até 2025. O manejo integrado da doença é a alternativa que mostra um caminho sustentável para a produção de soja no Brasil. Diante desses riscos cabe a toda cadeia, um esforço conjunto para a conscientização dos riscos e perdas que teremos se não forem adotadas as formas corretas de manejo integrado.
 

¹ Gerente de Marketing & Sales Effectiveness na DuPont Pioneer

Referências:
Manual de Fitopatologia. Edição de Hiroshi Kimati [et al.] 4ª Edição. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005
Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2013/14: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Disponível em <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/994285/1/CT103online.pdf>
FRAC – Novas recomendações para o manejo da ferrugem asiática da soja. Disponível em <http://frac-brasil.org.br/frac/secao.asp?i=10&c=76>
Companhia Nacional de Desenvolvimento – CONAB. Disponível em <http://www.conab.gov.br/>
Infoteca-e Embrapa. Disponível em <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/>

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