Suscetibilidade do Milho ao Ataque da Lagarta-do-Cartucho
Paulo Roberto da Silva¹ e Josemar Foresti²
Gallo, D. (in memoriam) et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 920 p, 2002.
Moraes, A.R.A; Lourenção, A.R.; Paterniani, M.E.A.G.Z.; Gallo, P.B.; Duarte, A.P. Avaliação da Produtividade e dos Danos Causados por Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) em Híbridos de Milho Convencionais e Transgênicos no Estado de São Paulo. XXIX Congresso Nacional De Milho E Sorgo. 2012.
Existe alguma fase do desenvolvimento vegetativo da cultura do milho que é mais sensível ao ataque da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E.
SMITH, 1797)? Caso positivo, qual seria o período crítico em que o
agricultor deveria dar maior atenção ao manejo da lavoura para o
controle dessa praga? E em relação às fases do desenvolvimento
reprodutivo (do florescimento em diante), existe algum ponto mais
crítico que mereça atenção? Perguntas como essas são muito disseminadas
no meio agrícola e, certamente, as respostas são muito divergentes.
Apesar de haverem muitos estudos que relacionam o ataque da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)
a grandes perdas em diversas culturas – com destaque para o milho, soja
e algodão, que são largamente cultivados no Brasil e que possuem grande
influência socioeconômica para o país, poucos são os estudos
científicos que apontam as fases de maior importância para adoção de
manejo voltado para o seu controle. Se tratando especificamente da
cultura do milho, a maioria dos estudos indicam perdas de rendimento, em
razão do ataque da lagarta-do-cartucho, entre 30 e 50%, podendo ocorrer
ataques desde o início até o final do ciclo (Figuras 1 e 2). No
entanto, existem situações específicas em que, se não houver intervenção
do agricultor para o controle da lagarta-do-cartucho, as perdas podem
chegar próximo à totalidade, como ocorre, por exemplo, na região oeste
da Bahia, grande produtora nacional de milho.
Figura 1: Danos da lagarta-do-cartucho nas folhas e colmos do milho durante as fases iniciais de desenvolvimento da cultura.
Figura 2: Presença da lagarta-do-cartucho na espiga do milho durante fase final de desenvolvimento da cultura.
Os métodos de controle mais comuns desta praga incluem o uso de
inseticidas químicos e biológicos, inimigos naturais e uso de tecnologia
Bt (proteínas inseticidas derivadas da bactéria Bacillus thuringiensis).
Com exceção do uso de inimigos naturais, que é muito pouco difundido
devido suas limitações, os demais métodos citados devem ser empregados
de maneira bastante técnica, para que sejam efetivos e para que se
retarde o processo da evolução da resistência dos insetos aos
inseticidas e aos materiais transgênicos.
Dentre as várias técnicas que visam potencializar o efeito dos
inseticidas químicos e biológicos, as principais estão relacionadas à
(ao):
- Hora certa do dia para o momento de aplicação;
- Qualidade da água utilizada na calda de aplicação;
- Qualidade do equipamento de aplicação;
- Momento correto em relação ao desenvolvimento do inseto e da cultura do milho.
Os instares iniciais do período larval da lagarta-do-cartucho são
muito mais sensíveis ao efeito dos inseticidas do que os instares
finais. Neste mesmo raciocínio, existem fases de desenvolvimento da
cultura do milho que são mais propícias ao ataque da
lagarta-do-cartucho, onde o milho é mais sensível ou vulnerável,
propiciando melhores condições de estabelecimento e desenvolvimento da
lagarta, e que deveriam ser focadas no momento da intervenção com
controle através de inseticidas.
Existem muitas opiniões no meio agrícola sobre as diversas fases de
desenvolvimento da cultura do milho e sua sensibilidade ao ataque da
lagarta-do-cartucho, mas até então não existiam estudos científicos
comprovando tais afirmações. Visando auxiliar o agricultor no manejo
prático desta importante praga, a DuPont Pioneer desenvolveu estudos em
casas de vegetação, durante safras agrícolas, que fornecem subsídios
para que o agricultor possa intervir de maneira mais assertiva e eficaz
no controle da lagarta-do-cartucho, evitando perdas de rendimento, além
de diminuir o risco da evolução da resistência, tanto aos inseticidas
quanto às tecnologias transgênicas que controlam a praga.
Nos trabalhos desenvolvidos pela DuPont Pioneer o objetivo foi
determinar, mediante diversas fases vegetativas e reprodutivas do ciclo
de desenvolvimento do milho (Figura 3), aquelas de maior ou menor
sensibilidade ao ataque da lagarta-do-cartucho, gerando informações
importantes para intervenção do agricultor no controle da praga.
Figura 3:
Visão geral dos experimentos em casa de vegetação (A e B), com as
plantas de milho em diversos estádios de desenvolvimento vegetativo e
reprodutivo.
Observações dos experimentos mostraram uma maior sobrevivência de
lagartas em plantas mais jovens do que em plantas mais velhas,
evidenciando que as fases iniciais de crescimento são as mais sensíveis
aos danos nas folhas, cartuchos e colmos. Essas fases iniciais
correspondem ao período de VE até V6, que
representam um período de tempo aproximado de até 30 dias após a
semeadura (tempo este muito dependente da temperatura ambiente), nas
condições da região centro-oeste do Brasil. A maior sobrevivência em
plantas mais jovens está associada a maior capacidade de dano e é
justamente nesse período que o agricultor deve ter maior rigor no manejo
de controle da lagarta-do-cartucho, durante as fases vegetativas.
Associado aos resultados de sobrevivência de lagartas, os escores de
danos nas folhas e colmos comprovam essa evidência. No estudo realizado
pela DuPont Pioneer, da emergência até V6 as plantas foram completamente
destruídas (Figura 4). A partir daí, essa capacidade de dano nas folhas
e colmos vai diminuindo, até que se torna pouco significante – após o
estádio R2 (Figura 5). Porém, a partir do florescimento, as
lagartas migram para a espiga, onde causam danos bastante expressivos.
Esses danos estão associados ao próprio consumo dos grãos em formação, e
a interferência da polinização pela alimentação nos estilo-estigmas.
Figura 4: Parcelas não infestadas (A, B e C) e parcelas infestadas (D, E e F) com 20 lagartas-do-cartucho por planta, nos estádios V2 (A e D), V4 (B e E) e V6 (C e F), 14 dias após a infestação.
Figura 5: Parcelas não infestadas (A, B e C) e parcelas infestadas (D, E e F) com 20 lagartas-do-cartucho por planta, nos estádios V9 (A e D), V12 (B e E) e V15 (C e F), 14 dias após a infestação.
O período mais sensível aos danos na espiga é quando a infestação ocorre entre V15 (pré-florescimento) e R2 (uma semana após o florescimento). Evidentemente não há espigas formadas no estádio V15,
porém, as lagartas iniciam sua alimentação nas folhas e migram
posteriormente para espiga, justamente no início da emissão dos
estilos-estigmas. Esse período é crucial e corresponde ao dano máximo
observado nas espigas, sendo que na maioria delas, quando atacadas por
larvas maiores logo no início da emissão dos estilos-estigmas, não houve
fecundação dos óvulos que viriam a formar os grãos, devido aos danos
nos mesmos (corte e alimentação). Houve um declínio no potencial de dano
causado pelos insetos nas espigas, a partir de R3, devido à
redução da capacidade da praga em estabelecer-se nas plantas. Sendo
assim, as lagartas foram capazes de penetrar na palha e danificar o meio
e base das espigas no período compreendido entre V15 e R2 (Figuras 6 e 7).
Figura 6:
Espigas de parcelas não infestadas (A, B e C) e parcelas infestadas (D, E
e F) com 20 lagartas-do-cartucho por planta, nos estádios V15 (A e D), VT (B e E) e R1 (C e F), 14 dias após a infestação.
Figura 7:
Espigas de parcelas não infestadas (A, B e C) e parcelas infestadas (D, E
e F) com 20 lagartas-do-cartucho por planta, nos estádios R2 (A e D), R3 (B e E) e R4 (C e F), 14 dias após a infestação.
Nesse sentido, vale salientar novamente, que em infestações tardias,
atenção especial deve ser tomada durante o início do florescimento,
período em que as lagartas migram das folhas e entram na espiga
provocando perda quase que total, seja pelo corte dos estilo-estigmas,
não permitindo a fecundação, seja pela própria alimentação na espiga
muito jovem. A partir de R3 as lagartas não conseguiram mais
penetrar na palha da espiga e o dano, além de diminuir
consideravelmente, ocorreu apenas na ponta da espiga.
Sendo assim, fica evidente para o agricultor que os dois períodos
críticos para o manejo de controle da lagarta-do-cartucho no milho,
durante os estádios vegetativos e reprodutivos do milho, são:
1 - da emergência das plântulas até 30 dias após a semeadura (VE até V6), onde há grandes danos iniciais nas folhas e no colmo do milho;
2 - de uma semana antes, até duas semanas após o florescimento (V15 até R2), onde ocorrem grandes perdas por danos na espiga, totalizando cerca de 20 dias.
De posse dessas informações, sem dúvida, o agricultor dispõe de uma
ferramenta a mais para auxiliar na tomada de decisão do momento ideal de
realizar o manejo de controle da lagarta-do-cartucho, podendo assim
potencializar o rendimento de seus campos.
Referências:
Bernardi, O.; Bernardi, D.; Ribeiro, R.S.; Okuma, D.M.; Salmeron, E.; Fatoretto, J.; Medeiros, F.C.L.; Burd, T.; Omoto, C. Frequency of resistance to Vip3Aa20 toxin from Bacillus thuringiensis in Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) populations in Brazil. Crop Protection v. 76, p. 7-14, 2015.Gallo, D. (in memoriam) et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 920 p, 2002.
Moraes, A.R.A; Lourenção, A.R.; Paterniani, M.E.A.G.Z.; Gallo, P.B.; Duarte, A.P. Avaliação da Produtividade e dos Danos Causados por Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) em Híbridos de Milho Convencionais e Transgênicos no Estado de São Paulo. XXIX Congresso Nacional De Milho E Sorgo. 2012.
Comentários
Postar um comentário
Venho aqui nesse início de ano agradecer a todos os colaboradores por suas contribuições