Commodities esperam a definição da economia mundial

São Paulo, sábado, 21 de abril de 2012 Análise agronegócio GERALDO BARROS ESPECIAL PARA A FOLHA O mercado de commodities passa por uma fase de indefinição enquanto não se vislumbra um encaminhamento consistente de medidas capazes de superar a crise, centrada na zona do euro. Além disso, dúvidas sobre o rumo a ser tomado pela China, em fase de importantes mudanças políticas, ganham atenção cada vez maior dos analistas e operadores. Apesar das incertezas, em média os preços internacionais dos alimentos, por exemplo, segundo a FAO, encontram-se em patamares bem acima dos de 2008 (auge da crise), embora em níveis abaixo dos recordes de 2011. A segurança oferecida pelos Estados Unidos – ainda que esse seja um dos focos da crise – tem feito com que, a despeito da enorme expansão da oferta de dólares, essa moeda mantenha-se quase estável desde 2009. Ou seja, o dólar não contribuiu para a recuperação de 44% nos preços internacionais de alimentos havida a partir do piso observado em torno daquele ano (2009). A demanda forte em 2010 e em parte de 2011, além dos estoques baixos, é que explicam essa evolução. Os estoques mundiais de milho, por exemplo, são os menores desde 1973/74. Também desde 2009 – em grande parte devido aos juros altos no Brasil – o real teve valorização de 26% em relação ao dólar, a despeito das fortes intervenções do governo no mercado de câmbio. Assim, a elevação nos preços externos não foi repassada integralmente aos preços internos no Brasil. Atualmente, em média, os preços internacionais dos alimentos acham-se em leve alta. Mostram sinais de elevação a soja, a carne bovina e o arroz. Milho, açúcar e algodão apresentam-se relativamente estáveis. O café está em queda. Grosso modo, o mesmo padrão se reproduz internamente no Brasil, com exceção do milho, cujo preço caiu durante a safra. No mercado, há um temor de que o baixo crescimento nos países centrais prossiga por longo tempo e contamine os demais países de forma ainda mais intensa e prolongada do que se pensava. Preocupa bastante a desaceleração esperada na China. Se isso se consumasse, praticamente o mundo todo seria afetado. Os preços tenderiam a se posicionar em níveis mais baixos, dependendo da intensidade do choque. Na incerteza, os aplicadores em fundos mostram-se bastante cautelosos na reciclagem da grande liquidez barata no mercado de commodities, ainda sob influência das perdas com a queda de preços no último trimestre de 2011. Assim, fica-se, ao menos por enquanto, livre de qualquer mudança de tendência nos mercados. Enquanto as perspectivas de prazo mais longo não se definem, predominam as forças de curtíssimo prazo, como o andamento do clima e da produtividade e seus impactos na oferta. A entrada ou não da China no mercado em determinado dia é suficiente para mover significativamente as cotações. Esforços são dedicados para antever quais os próximos passos dos formuladores de política no Primeiro Mundo e na China. Somente um sinal claro de recuperação econômica a médio prazo incentivaria a tomada de posições compradas. Algo que até agora nem mesmo os mais otimistas dos operadores conseguem vislumbrar. GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

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