Pimentas - um tempero pra lá de antigo

Muito antes da chegada de Colombo às Américas, as pimentas do gênero Capsicum (que incluem
a pimenta vermelha, a pimenta-de-cheiro e a pimenta malagueta) já eram amplamente usadas nas
Américas Central e do Sul, no Caribe e no México. Os registros mais antigos do cultivo de pimenta
são encontrados em sítios arqueológicos em Tehuacán, no México, e datam de cerca de 9 mil
anos.


Frutos de Capsicum eram usados pelos astecas para condimentar uma bebida à base de
sementes de cacau, o tchocoatl, precursor do chocolate.
No Brasil, na época da chegada dos europeus, o cultivo de pimentas era prática comum entre os
indígenas. Interessantes relatos sobre as pimentas cultivadas pelos índios brasileiros no século 16
foram feitos pelo alemão Hans Staden. Após o naufrágio do navio em que viajava, ele foi
aprisionado pelos índios no litoral fluminense, vivendo entre os tupinambás de 1547 a 1555.
Staden relatou suas aventuras e a rotina dos indígenas com os quais conviveu em um livro,
publicado na Alemanha, em 1557. Neste livro, descreveu as pimentas que os selvagens
plantavam para comer, uma amarela e outra vermelha, comparando seus frutos, quando verdes,
aos frutos da roseira de espinhos. O autor relata que os índios as colhiam quando maduras e as
secavam ao sol. Ele também registrou a maneira como as pimentas eram usadas para expulsar
os inimigos. Os índios faziam grandes fogueiras e, quando o vento soprava, colocavam ali
grandes porções de pimenta, cuja fumaça, atingindo as cabanas, obrigava os adversários a fugir.
Seus relatos descrevem ainda o comércio entre índios e franceses, cujos navios aportavam na
costa brasileira em busca de produtos locais. Além do cobiçado pau-brasil, os franceses levavam
pimentas, macacos e papagaios, dando, em troca, “presentes” duvidosos, como facas, machados,
pentes, guizos, anzóis, pano ordinário e espelhos. As pimentas eram plantas muito valorizadas
entre os indígenas, geralmente ficando em segundo lugar apenas quando comparadas aos
principais produtos - o milho e a mandioca. As pimentas também desempenhavam um importante
papel nas cerimônias religiosas e mitos.
O primeiro registro europeu sobre as pimentas do gênero Capsicum aparece em uma carta escrita
*Publicado em: site Infobibos, em 15/7/2008.
em 1493, por um espanhol, que relatava que Cristóvão Colombo havia encontrado uma planta
cujos frutos eram bastante consumidos pelos nativos e que era picante como a pimenta-do-reino
ou pimenta-preta (Piper nigrum). A pimenta-do-reino, de origem asiática, já era amplamente
usada pelos europeus muito antes da época das grandes navegações.
Na Europa, o primeiro impacto que as plantas levadas por Colombo causaram foi devido à
estética dos frutos, com cores e formatos atraentes, passando então a ser cultivadas com fins
ornamentais. Após poucas décadas, no entanto, a utilidade dos frutos na culinária foi reconhecida,
e seu cultivo se disseminou pela região mediterrânea. As “novas” pimentas se disseminaram
muito rapidamente através das rotas de especiarias da Europa para a África, Índia, China e
Japão. O novo condimento foi incorporado quase instantaneamente na culinária de diversos
países da Europa, da África e da Ásia. Mesmo no Oriente, apesar de ser a terra das especiarias e
onde parecia difícil aceitar uma nova substância picante, Capsicum atingiu uma grande difusão.
Lá foi chamada de “pimenta dos pobres”, por ser incomparavelmente mais barata do que a
pimenta-do-reino e ter semelhante sabor, ardente e picante.

Autores.
Rosa Lía Barbieri
Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado
Elisabeth Regina Tempel Stumpf
bolsista Pós-Doutor Junior do CNPq

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