Cultivo de rosas gigantes se multiplica no Brasil

Flores cada vez maiores e mais vistosas ganham os campos do país, no rastro do mercado aberto pelas rechonchudas colombianas



Imagine uma rosa capaz de apresentar sete centímetros do botão à ponta das pétalas e, depois de desabrochar, atingir surpreendentes 15 centímetros de diâmetro. Seriam proporções elementares, caso a origem da flor fosse a Colômbia, mas o que se vê é que o tino para esse tipo de cultivo passou também para o lado de cá da fronteira. Foi com o nascimento do Plano Real, em 1994, que o segmento de rosas de maiores dimensões prosperou no Brasil. Isso porque, como o novo modelo econômico passou a incentivar as importações, as rosas vindas de fora – especialmente os imensos botões colombianos – inundaram o mercado, o que estimulou os produtores do país a buscar variedades que atendessem a esse novo interesse do consumidor. “Hoje, já temos uma condição de plantio que nos permite alcançar um padrão de qualidade semelhante ao dos grandes fornecedores mundiais”, afirma o agrônomo Gustavo Vieira. Ele se dedica há 13 anos aos cultivos do Grupo Reijers, atualmente o maior produtor de rosas do Brasil. Cerca de um terço do que é plantado pela empresa (3,5 milhões de flores, em 45 hectares) corresponde a variedades mais encorpadas, o que equivale a 10 mil rosas diárias no inverno e 20 mil no verão na Fazenda Tropical, em Itapeva, no sul de Minas Gerais, e outras 15 mil unidades na Fazenda São Benedito, no município cearense de mesmo nome, situado na Serra da Ibiapaba.

Há alguns detalhes que fazem a diferença na produção de rosas de grandes dimensões, a exemplo do tipo e da altura da estufa, além das condições de luminosidade, ventilação e irrigação. “Trabalhamos com o sistema de dobras, potencializando a fotossíntese ao dobrar os galhos mais finos e eliminar suas flores, fazendo com que adicionem sua fotossíntese ao galho principal e colaborem para formar o pulmão verde da planta”, diz o agrônomo da Reijers. O acesso à água e nutrientes é um fator de atenção, já que essas rosas elaboram galhos mais compridos e grossos e botões com mais pétalas – enquanto uma variedade normal tem de 40 a 50 pétalas, elas têm de 60 a 80, algumas chegando a até 100 pétalas. Assim, levam de três a quatro semanas a mais para que fiquem prontas e chegam a atingir preços até 50% acima dos de um botão médio. Frente às rosas importadas, as da Reijers alcançam o mesmo patamar de valor. “Às vezes, nosso produto é melhor remunerado, por estar mais fresco”, afirma Vieira.


E por que as rosas colombianas (e mais recentemente as equatorianas) são tão cultuadas? Pois as condições do clima e do terreno explicam boa parte da fama. Os roseirais são mantidos sob temperaturas de 5 ºC à noite e até 27 ºC durante o dia, variação que permite que as flores acumulem mais energia e tenham uma melhor fotossíntese. O solo, de origem vulcânica, é muito fértil. A experiência de mais de 30 anos nesse tipo de produção também pesa. “Uma só empresa pode chegar a ter mais de 120 variedades em produção e as flores podem ir da Colômbia à Holanda, uma distância de 6 mil quilômetros, permanecendo intactas, dada a qualidade e o manejo. Do operário mais simples ao proprietário, a mão de obra é extremamente qualificada”, conta o colombiano Julio Cantillo Simanca, especialista em flores de corte e que há 16 anos atua no Brasil.

Globo Rural On-line - Mariana Caetano

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